Mobilização conta com apoio crescente de lideranças indígenas de outros grupos, como os Kayapó Mebêngôkre.
Depois de deixar o canteiro de Belo Monte por ordem da Justiça no último dia 9, parte dos indígenas que pararam o principal canteiro de obras da usina por oito dias permanecem na cidade de Altamira para dar continuidade aos processos de mobilização pela paralisação de todos os projetos hidrelétricos e seus estudos nos rios Xingu, Tapajós e Teles Pires. Eles exigem que seja realizada a consulta prévia, prevista na Constituição e na Convenção 169 da OIT.
Lideranças de uma das aldeias do Teles Pires, Valdenir Munduruku afirmou que os indígenas não atenderão à proposta do governo federal de realizar uma reunião em Brasília para discutir a consulta prévia relativa a apenas uma das hidrelétrica que ameaça os Munduruku no rio Tapajós.
A convocação foi feita na última semana pelo ministro da Secretaria geral da Presidência, Gilberto Carvalho. "Não se trata apenas de consultar os indígenas do Tapajós, mas sim de respeitar a Constituição, que prevê, junto com a Convenção 169, que todos os povos indígenas devem ser consultados antes da realização de estudos e da construção das hidrelétricas. Por isso, continuamos esperando a vinda do ministro Gilberto aqui em Altamira, como demandamos durante o processo de ocupação", explica Valdenir.
A mobilização conta com apoio crescente de lideranças indígenas de outros grupos, como os Kayapó Mebêngôkre. No último dia 10, os caciques Raoni, Megaron e Bep Kraô divulgaram uma nota em nome das aldeias Kremoro, Piaraçu, Jatobá, Kretire, Bytire, Kaweretxiko, Ropni, Krumare, Kakankube, Mopkrore, Omjekrakum, Kororoti, Nasepotiti e Sokwe, prestando solidariedade à luta dos grupos em Altamira e exigindo que sejam feitas as oitivas indígenas.
Um dia antes, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) também divulgou uma nota dura contra o governo e a tentativa de criminalizar e deslegitimar as lideranças Munduruku. "A COIAB rejeita e abomina o anseio do governo de querer afirmar ou dizer quem é ou não indígena; isso deixa claro que os direitos dos nossos povos continuam sendo desrespeitados e violados nessa terra que defendemos muito antes de ser Brasil: Exigimos respeito", diz a nota.
De acordo com a coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Antonia Melo, a permanência dos indígenas em Altamira também tem reforçado a organização de demais setores atingidos por Belo Monte. "Os moradores da cidade que perderão suas casas estão cada vez mais descontentes com as propostas de reassentamento completamente absurdas da Norte Energia, e a resistência indígena está reacendendo as mobilizações urbanas também", explica. Segundo ela, o Xingu Vivo e seus parceiros continuarão a apoiar os indígenas, inclusive com campanhas de captação de recursos, que deverá ser lançada ainda essa semana.
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