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terça-feira, 11 de junho de 2013

RELATOS APONTAM PARA NOVA VERSÃO PARA A DESCOBERTA DA GUERRILHA DO ARAGUAIA

Ocorrido entre 1972 e 1975, o conflito deixou cerca de 80 mortos e 67 militantes desaparecidos.

Um documento de duas páginas encontrado entre os milhões de papéis digitalizados no Arquivo Público do Estado de São Paulo, com o endereço de um militante do PC do B, no Rio, joga luzes sobre a descoberta da Guerrilha do Araguaia pelas Forças Armadas. O endereço é a Rua Visconde de Maranguape, 26, Lapa, no centro do Rio, onde morava o estudante de farmácia e bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Antônio Teodoro de Castro, desaparecido no Araguaia.

O local foi entregue aos militares por um militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) preso e torturado em São Paulo dois meses antes do primeiro ataque das Forças Armadas à guerrilha, ocorrido no dia 12 de abril de 1972. “O endereço foi o rastro. Eles seguiram e foram bater no Araguaia”, diz Maria Eliana de Castro, irmã do guerrilheiro que há 40 anos procura vestígios de Antônio Teodoro. Ela encontrou o documento pesquisando o arquivo e o encaminhou à Comissão Nacional da Verdade, encarregada de reconstituir o massacre e extermínio do mais contundente episódio dos anos de chumbo, organizado pelo PC do B. Ocorrido entre 1972 e 1975, o conflito deixou cerca de 80 mortos e 67 militantes desaparecidos.

No documento, o que chama a atenção é o relato do ex-militante da ALN Gilberto Thelmo Sidney Marques, confirmando – depois de acareado com outro preso da mesma organização, Raimundo Leite de Almeida, – que o “aparelho” em que ficara dois meses no Rio havia sido cedido por Antônio Teodoro. O depoimento e acareação entre Almeida e Marques são de 21 e 22 de fevereiro de 1972, cinquenta dias antes da eclosão do conflito, iniciado com um ataque das Forças Armadas em 12 de abril de 1972, quando Antonio Teodoro de Castro, já conhecido como Raul na guerrilha, encontrava-se no Araguaia.

As datas demonstram, segundo as suspeitas levantadas por Eliana, que, embora não tivesse informações precisas, o Centro de Informações do Exército (CIE) já sabia que militantes do PC do B haviam desaparecido em massa das cidades. As pegadas apareciam no caminho da região onde se daria o conflito. A confirmação viria com a prisão, em 17 de março de 1972, de outro estudante fichado por participação no Congresso de Ibiúna, em 1968, Pedro Albuquerque que havia desertado da guerrilha junto com a mulher, Tereza Albuquerque, em novembro de 1971.

A versão até aqui difundida pelo próprio PC do B responsabiliza o ex-militante pela descoberta do foco. Seu nome é citado como traidor inclusive no mais importante documento que produziu sobre a guerrilha, o Relatório Arroyo, escrito no calor do conflito por um dos comandantes, Ângelo Arroyo. Preso e torturado, Albuquerque, de fato, levou os militares até a região, mas seu depoimento teria tido a relevância de confirmar as suspeitas levantadas com a revelação do endereço do Rio. No mesmo documento está anexado um relato dos órgãos de informação onde se lê que Antônio Teodoro de Castro é apontado como “rede de apoio” de Marques que, no interrogatório, afirma que o amigo e conterrâneo (os dois são cearenses) “deve ter entrado na clandestinidade”.

Os militares já haviam concluído o primeiro ataque à guerrilha quando viria, pelo depoimento de outro militante da esquerda armada, José Roberto Bron de Luna, em julho de 1972, a confirmação de que Antonio Teodoro se encontrava em Xambioá (TO). O informe lista os nomes de outros cinco militantes (Arildo Valdão, erroneamente identificado como Arlindo, Lucia Maria de Souza, Elmo Correa, Hélio Luiz Magalhães Navarro e João Carlos Campos Wisnesky, o Paulo Paquetá, que abandonou a área no final da guerrilha e é um dos poucos sobreviventes) que se deslocaram do Rio no mesmo período.

Em agosto de 1972, diz o informe do CIE, o guerrilheiro estava integrado ao “Grupo do Castanhal do Alexandre”, base do destacamento B da guerrilha. A cronologia em que o documento está inserido confirma que bem antes da prisão de Albuquerque os militares seguiam o rastro do PC do B. No dia 12 de abril de 1972, já seguros da presença de guerrilheiros entre os camponeses do Araguaia – eram cerca de 70 militantes, divididos em três destacamentos organizados a partir de 1966 – Marinha, Aeronáutica e Exército dariam início aos ataques. Na primeira fase da campanha, que se estendeu até setembro, fizeram prisioneiros, entre os quais 12 ainda estão vivos – o deputado José Genoino (PT-SP), hoje condenado no mensalão, é um deles.

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