Sob ameaça de
madeireiros e pecuaristas, colonos fazem extração de óleo de andiroba,
castanha-do-pará e cupuaçu.
Às
margens da rodovia Transamazônica, um grupo de agricultores liderados pela
freira Ângela Sauzen, está tentando estabelecer a viabilidade econômica da
extração sustentável de óleos naturais de plantas locais. O projeto Sementes da
Floresta foi formado por agricultores levados originalmente para a Amazônia num
programa do governo que pretendia colonizar a região ao longo da Transamazônica.
Derisvaldo Moreira, o Dedel, um dos integrantes
do Projeto, conta que a comunidade extrai diversos tipos de óleos naturais de
plantas como andiroba, castanha-do-pará e cupuaçu. O óleo produzido é vendido
principalmente para a indústria cosmética.
Como
muitos agricultores do Sementes da Floresta, Dedel migrou para a Amazônia do
árido Nordeste brasileiro em busca de terra e recebeu um pequeno lote do
governo para a lavoura e o cultivo da terra. Com o tempo, porém, esses pequenos
agricultores começaram a pensar em um novo tipo de atividade econômica – a
extração sustentável de óleos naturais de plantas amazônicas. Foi então que,
com a ajuda de sua irmã franciscana
Ângela Sauzen, nasceu o projeto Sementes da Floresta. Desde então, o projeto
vem se expandido para incluir mais produtos naturais e mais comunidades. A
transição da agricultura para o extrativismo sustentável, porém, não foi fácil.
Os
colonos, sem prática na extração de óleos, tiveram que convidar pessoas de
comunidades tradicionais, que vivem há muito tempo na floresta, para ensiná-los
como tirar tais substâncias das sementes das plantas. Também tiveram de passar
pelo processo burocrático de criar uma empresa comunitária para adequar o
processo extrativista a exigências legais e contábeis. O problema mais grave
dos colonos tem sido a oposição implacável de latifundiários, grileiros e
madeireiros, que afirmam que a terra é deles, apesar de o governo ter decidido,
em 1971, criar o Polígono de Altamira, destinando as terras daquela porção da
rodovia Transamazônica para serem ocupadas exclusivamente por pequenos
agricultores do programa de reforma agrária.
Os
madeireiros da região admitem, sem se identificar, que de certa forma todos
operam ilegalmente. O pecuarista Domingos Nicolodi reivindica mais de 6.000
hectares de terra na área em que os assentados hoje fazem coleta de produtos
florestais, apesar de tais dimensões extrapolarem mais de duas vezes a área
máxima de terras públicas que uma pessoa pode adquirir de acordo com a
Constituição brasileira. Questionado sobre o projeto Sementes da Floresta ele
diz: “Isso é tudo coisa daquela freira maluca. Não sei por que ela tem de se
envolver nessas questões de terra. Ela devia ficar na igreja, rezando.” Para a
franciscana, o importante é que o Incra legalize a situação dos colonos, que
ainda é irregular. “Enquanto nada acontece, a floresta está sendo esvaziada
pelos caminhões dos madeireiros.” Concluiu a Freira.
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