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sexta-feira, 5 de abril de 2013

MARABÁ COMPLETA 100 ANOS HOJE





A cidade de Marabá, considerada uma das maiores do Estado do Pará e consagrada nos versos de Gonçalves Dias, completa hoje, 05 de abril, 100 anos de existência.  A história de Marabá começa a partir de 1894, quando o coronel Carlos Leitão, acompanhado de seus familiares e auxiliares de trabalho, deslocou-se para o sudeste do Pará, estabelecendo seu primeiro acampamento em localidade situada em terras margeadas pela confluência dos rios Tocantins e Itacaiúnas, e que posteriormente foi denominada de Pontal do Itacayuna.
Com o aumento da riqueza gerada pelo comércio de caucho e depois de castanha do Pará, a região atraiu muitos imigrantes, e a partir de 1903, a até então vila do Pontal começa a lutar por sua emancipação. Em 1913, por influencia principalmente do coronel Antonio Maia, Marabá se emancipou.  Entre 1913 e a década de 2000 Marabá se desenvolveu de forma vertiginosa, experimentando desde ciclos extrativistas a períodos de forte expressão industrial. Com uma história marcada por muitos conflitos, os séculos XX e XXI foram especialmente fervilhantes no município, que viu a ascensão e declínio de oligarquias, revoluções emancipacionistas, guerrilhas comunistas, massacres de indígenas e trabalhadores, conflitos pela posse da terra, descoberta de grandes depósitos minerais, grandes projetos governamentais, escândalos políticos e explosões demográficas.
Desde a década de 1970, estudos antropológicos na bacia do Itacaiunas e na  Serra dos Carajás permitiram a observação de povoações muito antigas no território de Marabá, o que possibilitou uma visão maior da ocupação humana na região. Com os referidos estudos, foi possível definir que esta tinha sido ocupada por sociedades pré-cabralinas, isto é, anteriores a colonização europeia. Estudos aprofundados desenvolvidos nas grutas e cavernas da Serra dos Carajás, detectaram vestígios de sociedades muito antigas e complexas, com registros de ocupação humana datando aproximadamente 9.000 anos.
As referências mais antigas de que se tem notícia, sobre a ocupação humana no maciço de Carajás e no vale do rio Itacaiunas onde hoje se assenta o município de Marabá, é provavelmente dos registros feitos pelo Padre Manuel de Mota, que em 1721 visitou as aldeias indígenas do baixo e médio Itacaiunas e seus afluentes. Mais tarde entre 1895 e 1896, Henri Coudreau realizou o levantamento geográfico dos mesmos rios e observou que várias populações haviam ocupado alguns trechos do baixo Itacauinas.
ORIGENS INDÍGENAS FAZEM PARTE DA HISTÓRIA DE MARABÁ
Os primeiros estudos antropológicos no baixo e médio Itacaiunas e no maciço de Carajás ocorreram em 1963 coordenados pelo frei Protásio Frinkel com auxílio do Museu Goeldi, investigando principalmente o grupo Xikrin. Frinkel observou a ocorrência de cerâmica no solo de algumas aldeias. Estes fragmentos eram de origem estranha ou desconhecida, já que os Xikrin não conheciam as técnicas de produção de artefatos de cerâmica.  Mais tarde o Museu Goeldi analisou este material e concluiu ser ele pertencente à cultura Tupi-guarani. Posteriormente denominou-se estes vestígios de "Fase Itacauinas", possivelmente pertencentes a tradição ceramista Tupi-guarani.
A geomorfologia da região permitiu o desenvolvimento de sociedades antigas e complexas. O maciço de Carajás e vale do rio Itacaiunas ocupam uma zona de transição entre a floresta amazônica e o cerrado do Planalto Central do Brasil. Seus rios em cujas margens predomina a floresta são tributários do sistema hidrográfico Tocantins, que atravessa grandes extensões do cerrado.
Na área onde hoje se assenta o município de Marabá, até o início do século XVI, havia uma considerável população indígena. Seis povos indígenas habitavam o território Marabá, são eles: os Arara, os asurini, os Gavião, os Kaiapó, os Parakanã e os Suruí. Após o contato com o colonizador, houve uma redução rápida da população indígena, provocado por: epidemias de doenças contraídas após o contato com o colonizador; apresamento de índios para o trabalho escravo e assassinato em massa de populações indígenas que se encontravam em áreas de interesse para a colonização.
Na segunda metade do XIX, descobriu-se nesta região o caucho, e os índios voltaram a ser confrontados. Desta vez os colonizadores que adentravam a mata, em busca das árvores da goma elástica. Pouco depois, por volta de 1920, foi a castanha-do-pará que atraiu o explorador para o interior da floresta, provocando novos conflitos. Em todas essas lutas o explorador era vencedor, pois os índios vivendo dispersos, não tinham formas de unir-se para enfrentar o invasor além disso as armas dos indígenas eram rústicas - arcos, flechas, bordunas - enquanto seus adversários utilizavam armas de fogo.
Desde a década de 1970 somente os Suruís e Kayapós habitam no território de Marabá. Todos os outros povos que viviam na área municipal foram remanejados para reservas e terras indígenas próximas. A forte devastação ambiental, causadas principalmente pela pecuária, extração madeireira irregular, e mineração, expulsou os nativos de seus territórios originais. Os Kayapós, representados principalmente pelos subgrupos Xikrin e Gorotire, habitam hoje o extremo oeste do município, na região da Serra dos Carajás, em área preservada e subsidiada por ações público-privadas. O território em que estão confinados atualmente é rico em recursos minerais e hídricos. Os Suruís ou "Aikewara" vivem na Área Indígena Sororó, situada no sudeste do município de Marabá.
A relação entre nativos e colonizadores foi durante muito tempo tensa. Não havia uma relação simétrica entre as partes, pois o colonizador explorava e molestava o primeiro, e em contrapartida, o nativos lutavam em defesa de seu território. Em todas as situações o colonizador acabava protagonizando ações coercitivas desproporcionais, quase sempre resultando na morte e pilhagem das populações indígenas.
PROJETOS DE COLONIZAÇÃO FORAM ELABORADOS PELA COROA PORTUGUESA
A primeira tentativa de colonização oficial de Marabá ocorreu em 1808 quando por ordem de Dom João VI , a pedido do ouvidor Joaquim Theotônio Segurado, foi erguido um vilarejo na margem esquerda do Tacay-Una, que serviria de sede da capitania-comarca de São João das Duas Brarras. Não houve porém êxito neste projeto, e a região permaneceu por quase cem anos abandonada, sendo somente um local de passagem para aventureiros e exploradores. O povoamento da bacia do Itacaiunas teve na formação do município um papel importante, porque apesar dessa região ter sido explorada pelos europeus ainda no século XVI, permaneceu sem ocupação definitiva durante quase 300 anos.
Durante o século XIX , vários projetos de colonização foram elaborados pela coroa portuguesa, onde era citada a necessidade de se construir uma localidade que permitisse ocupação definitiva da região do foz do Araguaia ou Itacaiunas. Esta localidade serviria como marco da ocupação portuguesa, nessa porção do território, e, deste modo também, afastar a possibilidade do surgimento de empreendimentos de colonização rivais, como o da França Equinocial. O projeto da coroa portuguesa que mais próximo chegou a tal intento foi o da freguesia de Barra do Tacay-Uma, que em 1808 construiu uma freguesia onde hoje se assenta Marabá. Este não logrou sucesso, e logo foi abandonado.
Próximo a Marabá, núcleos colonizadores foram desenvolvidos, com destaque ao forte-presídio de São João do Araguaia, que desde o século XIX havia sido edificado, contudo sazonalmente povoado. Marabá no entanto, entre 1810 e 1894 esteve distante dos projetos de colonização, permanecendo seu território habitado somente por nativos. Os primeiros a participarem da formação do povoado de Marabá em 1894 foram chefes políticos deslocados de guerrilhas que tinham como palco o norte de Goyaz, mais precisamente a cidade de Boa Vista do Tocantins (atual Tocantinópolis).
O coronel Carlos Leitão, acompanhado de seus familiares e auxiliares de trabalho, deslocou-se para o sudeste do Grão-Pará, estabelecendo seu primeiro acampamento em localidade situada em terras próximas a confluência do rio Itacaiunas, sendo a localidade denominada de Quindangues. Fixaram-se definitivamente, na margem esquerda do Tocantins, cerca de 10  km rio abaixo do outro acampamento, em local a que foi denominado de Burgo do Itacayuna. Do ponto em que foi instalado o acampamento, os colonos começaram a abrir caminho na floresta a procura de campos naturais que servissem para criação de bovinos.
Em uma dessas incursões, encontrou uma árvore que escorria leite vegetal de seu caule, da qual suspeitou ser caucho- árvore da qual se extrai o látex, e se produz a borracha. Em 1895, o Carlos Leitão seguiu para a capital do estado para ter reunião com o então presidente do Grão-Pará, José Paes de Carvalho, a quem solicitou colaboração, visto a necessidade de se colonizar a região. Paes de Carvalho contemplou o coronel Leitão com seis contos de reis em dinheiro e estoque de medicamentos que seriam empregados no combate à doenças tropicais. Conseguido seu intento de ajuda e por terem os testes do leite vegetal endurecido comprovado que se tratara de látex (borracha) de caucho, Leitão, de volta ao Burgo do Itacayuna, difundiu a informação a todos da pequena colônia. Nos meses que se seguiram, chegaram os primeiros grupos de trabalhadores para extração do caucho.

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