A cidade de Marabá,
considerada uma das maiores do Estado do Pará e consagrada nos versos de
Gonçalves Dias, completa hoje, 05 de abril, 100 anos de existência. A história de Marabá começa a partir de 1894,
quando o coronel Carlos Leitão, acompanhado de seus familiares e auxiliares de
trabalho, deslocou-se para o sudeste do Pará, estabelecendo seu primeiro
acampamento em localidade situada em terras margeadas pela confluência dos rios
Tocantins e Itacaiúnas, e que posteriormente foi denominada de Pontal do
Itacayuna.
Com o aumento da riqueza
gerada pelo comércio de caucho e depois de castanha do Pará, a região atraiu
muitos imigrantes, e a partir de 1903, a até então vila do Pontal começa a
lutar por sua emancipação. Em 1913, por influencia principalmente do coronel
Antonio Maia, Marabá se emancipou. Entre
1913 e a década de 2000 Marabá se desenvolveu de forma vertiginosa,
experimentando desde ciclos extrativistas a períodos de forte expressão
industrial. Com uma história marcada por muitos conflitos, os séculos XX e XXI
foram especialmente fervilhantes no município, que viu a ascensão e declínio de
oligarquias, revoluções emancipacionistas, guerrilhas comunistas, massacres de
indígenas e trabalhadores, conflitos pela posse da terra, descoberta de grandes
depósitos minerais, grandes projetos governamentais, escândalos políticos e
explosões demográficas.
Desde a década de 1970,
estudos antropológicos na bacia do Itacaiunas e na Serra dos Carajás permitiram a
observação de povoações muito antigas no território de Marabá, o que
possibilitou uma visão maior da ocupação humana na região. Com os referidos
estudos, foi possível definir que esta tinha sido ocupada por sociedades
pré-cabralinas, isto é, anteriores a colonização europeia. Estudos aprofundados
desenvolvidos nas grutas e cavernas da Serra dos Carajás, detectaram vestígios
de sociedades muito antigas e complexas, com registros de ocupação humana
datando aproximadamente 9.000 anos.
As referências mais antigas
de que se tem notícia, sobre a ocupação humana no maciço de Carajás e no vale
do rio Itacaiunas onde hoje se assenta o município de Marabá, é provavelmente
dos registros feitos pelo Padre Manuel de Mota, que em 1721 visitou as aldeias
indígenas do baixo e médio Itacaiunas e seus afluentes. Mais tarde entre 1895 e
1896, Henri Coudreau realizou o levantamento geográfico dos mesmos rios e
observou que várias populações haviam ocupado alguns trechos do baixo
Itacauinas.
ORIGENS INDÍGENAS FAZEM PARTE DA HISTÓRIA DE MARABÁ
Os primeiros estudos
antropológicos no baixo e médio Itacaiunas e no maciço de Carajás ocorreram em
1963 coordenados pelo frei Protásio Frinkel com auxílio do Museu Goeldi,
investigando principalmente o grupo Xikrin. Frinkel observou a ocorrência de
cerâmica no solo de algumas aldeias. Estes fragmentos eram de origem estranha
ou desconhecida, já que os Xikrin não conheciam as técnicas de produção de
artefatos de cerâmica. Mais tarde o
Museu Goeldi analisou este material e concluiu ser ele pertencente à cultura
Tupi-guarani. Posteriormente denominou-se estes vestígios de "Fase
Itacauinas", possivelmente pertencentes a tradição ceramista Tupi-guarani.
A geomorfologia da região
permitiu o desenvolvimento de sociedades antigas e complexas. O maciço de
Carajás e vale do rio Itacaiunas ocupam uma zona de transição entre a floresta
amazônica e o cerrado do Planalto Central do Brasil. Seus rios em cujas margens
predomina a floresta são tributários do sistema hidrográfico Tocantins, que
atravessa grandes extensões do cerrado.
Na área
onde hoje se assenta o município de Marabá, até o início do século XVI, havia
uma considerável população indígena. Seis povos indígenas habitavam o
território Marabá, são eles: os Arara, os asurini, os Gavião, os Kaiapó, os
Parakanã e os Suruí. Após o contato com o colonizador, houve uma redução rápida
da população indígena, provocado por: epidemias de doenças contraídas após o
contato com o colonizador; apresamento de índios para o trabalho escravo e
assassinato em massa de populações indígenas que se encontravam em áreas de
interesse para a colonização.
Na
segunda metade do XIX, descobriu-se nesta região o caucho, e os índios voltaram
a ser confrontados. Desta vez os colonizadores que adentravam a mata, em busca
das árvores da goma elástica. Pouco depois, por volta de 1920, foi a
castanha-do-pará que atraiu o explorador para o interior da floresta,
provocando novos conflitos. Em todas essas lutas o explorador era vencedor,
pois os índios vivendo dispersos, não tinham formas de unir-se para enfrentar o
invasor além disso as armas dos indígenas eram rústicas - arcos, flechas,
bordunas - enquanto seus adversários utilizavam armas de fogo.
Desde a
década de 1970 somente os Suruís e Kayapós habitam no território de Marabá.
Todos os outros povos que viviam na área municipal foram remanejados para
reservas e terras indígenas próximas. A forte devastação ambiental, causadas
principalmente pela pecuária, extração madeireira irregular, e mineração,
expulsou os nativos de seus territórios originais. Os Kayapós, representados
principalmente pelos subgrupos Xikrin e Gorotire, habitam hoje o extremo oeste
do município, na região da Serra dos Carajás, em área preservada e subsidiada
por ações público-privadas. O território em que estão confinados atualmente é
rico em recursos minerais e hídricos. Os Suruís ou "Aikewara" vivem
na Área Indígena Sororó, situada no sudeste do município de Marabá.
A relação
entre nativos e colonizadores foi durante muito tempo tensa. Não havia uma
relação simétrica entre as partes, pois o colonizador explorava e molestava o
primeiro, e em contrapartida, o nativos lutavam em defesa de seu território. Em
todas as situações o colonizador acabava protagonizando ações coercitivas
desproporcionais, quase sempre resultando na morte e pilhagem das populações
indígenas.
PROJETOS DE COLONIZAÇÃO FORAM
ELABORADOS PELA COROA PORTUGUESA
A
primeira tentativa de colonização oficial de Marabá ocorreu em 1808 quando por
ordem de Dom João VI , a pedido do ouvidor Joaquim Theotônio Segurado, foi
erguido um vilarejo na margem esquerda do Tacay-Una, que serviria de sede da
capitania-comarca de São João das Duas Brarras. Não houve porém êxito neste
projeto, e a região permaneceu por quase cem anos abandonada, sendo somente um
local de passagem para aventureiros e exploradores. O povoamento da bacia do
Itacaiunas teve na formação do município um papel importante, porque apesar
dessa região ter sido explorada pelos europeus ainda no século XVI, permaneceu
sem ocupação definitiva durante quase 300 anos.
Durante o século XIX ,
vários projetos de colonização foram elaborados pela coroa portuguesa, onde era
citada a necessidade de se construir uma localidade que permitisse ocupação
definitiva da região do foz do Araguaia ou Itacaiunas. Esta localidade serviria
como marco da ocupação portuguesa, nessa porção do território, e, deste modo
também, afastar a possibilidade do surgimento de empreendimentos de colonização
rivais, como o da França Equinocial. O projeto da coroa portuguesa que mais
próximo chegou a tal intento foi o da freguesia de Barra do Tacay-Uma, que em
1808 construiu uma freguesia onde hoje se assenta Marabá. Este não logrou
sucesso, e logo foi abandonado.
Próximo a Marabá, núcleos
colonizadores foram desenvolvidos, com destaque ao forte-presídio de São João
do Araguaia, que desde o século XIX havia sido edificado, contudo sazonalmente
povoado. Marabá no entanto, entre 1810 e 1894 esteve distante dos projetos de
colonização, permanecendo seu território habitado somente por nativos. Os
primeiros a participarem da formação do povoado de Marabá em 1894 foram chefes
políticos deslocados de guerrilhas que tinham como palco o norte de Goyaz, mais
precisamente a cidade de Boa Vista do Tocantins (atual Tocantinópolis).
O coronel Carlos Leitão,
acompanhado de seus familiares e auxiliares de trabalho, deslocou-se para o
sudeste do Grão-Pará, estabelecendo seu primeiro acampamento em localidade
situada em terras próximas a confluência do rio Itacaiunas, sendo a localidade
denominada de Quindangues. Fixaram-se definitivamente, na margem esquerda do
Tocantins, cerca de 10 km rio abaixo do outro acampamento, em local a que
foi denominado de Burgo do Itacayuna. Do ponto em que foi instalado o
acampamento, os colonos começaram a abrir caminho na floresta a procura de
campos naturais que servissem para criação de bovinos.
Em uma dessas incursões,
encontrou uma árvore que escorria leite vegetal de seu caule, da qual suspeitou
ser caucho- árvore da qual se extrai o látex, e se produz a borracha. Em 1895,
o Carlos Leitão seguiu para a capital do estado para ter reunião com o então
presidente do Grão-Pará, José Paes de Carvalho, a quem solicitou colaboração,
visto a necessidade de se colonizar a região. Paes de Carvalho contemplou o
coronel Leitão com seis contos de reis em dinheiro e estoque de medicamentos
que seriam empregados no combate à doenças tropicais. Conseguido seu intento de
ajuda e por terem os testes do leite vegetal endurecido comprovado que se
tratara de látex (borracha) de caucho, Leitão, de volta ao Burgo do Itacayuna,
difundiu a informação a todos da pequena colônia. Nos meses que se seguiram,
chegaram os primeiros grupos de trabalhadores para extração do caucho.
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