Uma investigação proposta
pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados pode gerar
uma grande reviravolta no caso que ficou internacionalmente conhecido como “os
emasculados de Altamira”. Na semana passada, o presidente da Comissão, o
deputado Marcos Felicuiano, (PDC-SP), pediu ao presidente do Conselho Nacional
de Justiça, o ministro Joaquim Barbosa, uma minuciosa investigação para apurar
um possível erro da justiça paraense no tocante a condenação dos réus.
Alguns peritos que
atuaram no caso, nos anos 90, afirmam que não existem provas da culpa dos
acusados que foram condenados pelos crimes. Uma delas é a escritora paulista
especialista em criminologia Ilana Casoy, que afirma se tratar da “maior
injustiça já ocorrida no Brasil”.
Entre 1989 e 1993, 12 crianças foram castradas e
assassinadas na cidade de Altamira. Em júri realizado em 2003, quatro pessoas
foram condenadas, entre elas dois médicos do local – Césio Caldas Brandão, hoje
com 56 anos, e Anísio Ferreira de Souza, de 72, que continuam na prisão. Os
outros dois já morreram. Brandão recebeu pena de 56 anos, e Anísio de Souza, de
76.
Em 1996, houve uma reviravolta no caso, quando
Francisco das Chagas foi preso em São Luís, suspeito de ocorrências semelhantes
às ocorridas em Altamira. Investigações da polícia maranhense evidenciaram a
culpa de Chagas e o levaram a confessar todos os crimes, inclusive os de
Altamira.
Na montagem do caso, Diniz verificou que o
desaparecimento e a morte de crianças tanto em São Luiz quanto em Altamira
ocorreram em épocas em que Chagas se encontrava nesses locais. O senador Magno
Malta (PR-ES), que teve contato com o caso ao presidir a Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI) da Pedofilia, e conversou com Francisco das Chagas,
relatou que “existem mortes programadas na conta de luz de Francisco das Chagas,
na época que estava em Altamira e no Maranhão”.
Mesmo com todas essas evidências da culpa Chagas, a
Justiça paraense nunca aceitou rever as condenações. Depois de várias prisões e
solturas desde a condenação, os dois médicos permanecem encarcerados desde
2009, apesar de uma liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF),
Marco Aurélio Mello, que pede a libertação até que se proceda a novo
julgamento.
Os deputados da Comissão de Direitos Humanos, assim
como os senadores Paulo Paim (PT-PA) e Magno Malta, se comprometeram a
comparecer ao Supremo na próxima semana para conversar com Mello sobre o caso.
“É preciso que se cumpra a liminar do ministro Marco Aurélio e que se faça
justiça”, disse Malta.
Lourival Mendes defende a libertação imediata dos
médicos e a revisão da condenação. “Talvez nós estejamos diante do maior erro
do Judiciário brasileiro. Precisamos de novo julgamento para evitar que essa
injustiça se perpetue”, ressaltou".
Resumo do Caso
Meninos, com idade entre 8 e 14 anos,
foram seqüestrados e castrados na cidade de Altamira. Segundo o Ministério Público, os crimes que
aconteceram entre 1989 e 93 foram motivados por rituais de magia negra. As
crianças encontradas, mortas ou vivas, estavam nuas, algumas com orifícios de
arma de fogo, queimaduras de cigarro, olhos arrancados, pulsos cortados, órgãos
sexuais extirpados cirurgicamente, sofreram abuso sexual e sevícias.
Acusados
Anísio Ferreira de Souza: Médico. Foi
condenado a 77 anos de reclusão pela participação em três assassinatos e duas
tentativas de homicídio. Em 15 de dezembro de 2004, recebeu Hábeas Copus do
Supremo Tribunal Federal, podendo aguardar em liberdade o julgamento dos
recursos em que contestavam a condenação. Teve a prisão decretada em abril de 2005,
quando a Justiça manteve a sentença. Está foragido.
Césio Flávio Caldas Brandão: Médico
Ginecologista. Foi condenado a cumprir 56 anos de prisão em regime fechado pelo
envolvimento em três homicídios triplamente qualificados e por uma tentativa de
homicídio. Em 25 de novembro de 2004, obteve liminar em Habeas Corpus para
continuar em liberdade até o trânsito em julgado da sentença que o condenou.
Está foragido.
Carlos Alberto Santos Lima:
Ex-policial militar. Foi considerado culpado pelo Tribunal do Júri por um
homicídio e duas tentativas, recebeu 35 anos de prisão. Em 06 de janeiro de
2005, Teve seu pedido de extensão de liminar em Habeas Corpus negado pelo
Supremo Tribunal Federal.
Aldenor Ferreira Cardoso: Ex-cabo da
polícia militar do Pará. Aparece no processo como um dos réus, mas não foi
julgado, já que ninguém sabe de seu paradeiro. Há a suspeita de que esteja
morto.
José Amadeus Gomes: Comerciante. Foi
condenado a 56 anos de reclusão por três homicídios. Teve seu pedido de
extensão de liminar em Habeas Corpus negado pelo Supremo Tribunal Federal em
janeiro de 2005.
Amaílton Madeira Gomes: Fazendeiro.
Foi condenado à pena de 32 anos de reclusão, em regime integralmente fechado,
pelos crimes de homicídio qualificado e duas tentativas de homicídio. Teve a
prisão decretada em abril de 2005, quando a Justiça manteve a sentença. Está
foragido.
Valentina de Andrade: Autora do livro
‘Deus, a grande farsa’. Depois do julgamento mais longo da história do Tribunal
de Justiça do Pará, foi absolvida em 05 de dezembro de 2003, pela maioria de
seis votos contra um. As investigações indicam que todos seriam membros de uma
associação (L.U.S. é uma Associação Civil Sem Fins Lucrativos), com sede na
Argentina.
As sentenças aplicadas aos acusados
somam as penas dos crimes atribuídos a eles. Pelas leis brasileiras, porém, o
período máximo de detenção é de 30 anos.
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