O advogado José Batista
Afonso, coordenador da Comissão Pastoral da Terra, CPT, de Marabá, procurou
ontem a reportagem de O Liberal para relatar que policiais civis de São Geraldo
do Araguaia, da Delegacia de Conflitos Agrários de Marabá e seguranças das fazendas
do Grupo Santa Bárbara promoveram um verdadeiro terror contra um grupo de 110
famílias que estão ocupando, há cinco anos, parte da fazenda Castanhais no
município de Piçarra, sudeste do Pará. O antigo castanhal foi comprado pelo
Grupo Santa Bárbara.
De acordo com denúncias
feitas por vários agricultores à FETAGRI e a CPT de Marabá, na manhã de sábado,
09 de fevereiro, policiais civis de São Geraldo e da DECA de Marabá, entraram
na área acompanhados de seguranças da fazenda e algumas pessoas encapuzadas,
que não puderam ser identificadas. Alegando estarem cumprindo um mandado de
busca e apreensão, mas sem mostrar
cópia do referido mandado, o grupo de policiais e de supostos
seguranças, entraram em todas as casas, apreenderam motos, celulares, máquinas
fotográficas, facões, espingardas de caça e outro pertences. Em seguida,
prenderam 17 homens e uma mulher e levaram para a sede da Fazenda Espírito
Santo, de propriedade do Grupo Santa Bárbara. Enquanto os policiais prendiam os
trabalhadores e apreendiam seus pertences, homens encapuzados e os seguranças
ateavam fogo nas casas, muitas delas, sem que as famílias pudessem retirar o
que tinha dentro.
Segundo a CPT, durante a
operação policial foram queimadas 16 casas. Após atearem fogo nas casas,
tratores da fazenda passavam a destruir as plantações das famílias. “Pequenos
animais como porcos, galinhas, bodes, patos foram mortos ou ficaram perdidos no
meio do mato. Mulheres foram humilhadas, crianças e idosos foram abandonados no
meio da fazenda, debaixo de chuva e sem nenhuma proteção ou alimentação”. Disse o advogado José Batista frisando que da
sede da fazenda Espírito Santo, os trabalhadores foram levados em um ônibus da
fazenda até a beira da PA 150 onde foram embarcados em uma VAN, locada pelo
gerente da fazenda.
Em Marabá, todos foram
interrogados na DECA e liberados no dia seguinte. “Na segunda feira, o gerente
da fazenda ,conhecido por CAIM, retornou para a área acompanhado dos seguranças
e dos homes encapuzados. Ameaçando e humilhando as famílias, continuou com a
destruição das casas e das roças”. Acusa Batista ressaltando que de acordo com levantamento feito pelas famílias,
98 casas foram queimadas e mais de 45 alqueires de roça de arroz, milho,
mandioca, banana, abóbora, etc foram destruídos. Grande parte das famílias mal
conseguiram retirar alguns pertences de dento das casas.
A
trabalhadora rural Leandra conta que reuniu 13 crianças, sendo uma delas
deficiente e levou para seu barraco. Segundo ela, chovia quando o gerente
chegou em sua casa acompanhado dos seguranças e deu ordens para que todos
saíssem. Sem ter para onde ir com as crianças, se negou a sair e implorou para
que sua casa fosse poupada até o dia seguinte. O gerente então deu ordens para
que o tratorista derrubasse a casa com todos dentro. A casa só não foi
derrubada porque um dos seguranças de nome Frank, discutiu com o gerente e não
permitiu a ação violenta. Durante o tempo que estiveram detidos na sede da
Fazenda Espírito Santo, os trabalhadores presenciaram o gerente dando ordens
para que os carros da polícia fosse abastecidos, bem como, policiais
gesticulando que receberiam dinheiro após a operação.
No processo que tramita na Vara Agrária de Marabá
não há ordem de despejo a ser cumprida contra as famílias. “As famílias estão abandonadas
em um canto da fazenda sem apoio, sem alimentos e sofrendo ameaças permanentes
dos jagunços da Santa Bárbara”. Diz o
advogado da CPT frisando que a entidade e a Fetagri irão denunciar os
responsáveis pela ação ilegal ao Ministério Público, à Ouvidoria Agrária
Nacional, à Corregedoria de Polícia e às Entidades de defesa dos direitos
humanos.
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