Uma lista de 36 envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras
denunciados à Justiça foi lida na última quinta-feira pelo procurador da
República Dalton Dellangnol em Curitiba. Eles foram responsabilizados
pelo desvio de R$ 286,4 milhões de contratos da diretoria de
Abastecimento da estatal com seis empreiteiras, mas o Ministério Público
já pediu o ressarcimento de R$ 1,1 bilhão. É o que já se sabe que foi
desviado da estatal pelo mesmo grupo também na diretoria de Serviços. O
procurador frisou que a denúncia é apenas a primeira de uma investigação
que ainda está em curso, mas o escândalo de corrupção descoberto pela
Operação Lava-Jato na Petrobras já é um dos maiores das duas últimas
décadas. Somente os prejuízos apurados até agora já representam mais de
seis vezes o que abasteceu o mensalão. A comparação se limita aos
valores que foram apurados em casos que vieram à tona e também não leva
em consideração o impacto político.
ROMBO DEVE SER MAIOR
Em 2005, investigações da
Polícia Federal, Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério
Público apontaram que R$ 101,6 milhões foram desviados dos cofres
públicos, principalmente do Banco do Brasil, para pagamentos não
declarados a parlamentares da base do governo. Considerando a inflação
acumulada desde 2005, esse valor seria o equivalente hoje a pouco mais
de R$ 170 milhões. Aplicando uma correção monetária estimada aos valores
que aparecem nas denúncias resultantes da investigação de outros
escândalos recentes para torná-los comparáveis ao da Petrobras, é fácil
perceber que o caso da estatal tem tudo para superá-los. A cobrança de
propinas de empreiteiras por executivos da Petrobras em troca de
contratos superfaturados foi descoberta pela PF a partir da investigação
de um esquema de lavagem de dinheiro operado por doleiros como Alberto
Youssef, que está preso. Os investigadores estimam que R$ 10 bilhões
podem ter passado pelo esquema.
No entanto, o volume de dinheiro que alimenta propinodutos nem sempre expressa o impacto político que eles produzem.
No caso do mensalão, poucas cifras de fato apareceram. Não foi só o
volume de dinheiro público envolvido que chamou a atenção do país. O
maior impacto veio da revelação da relação estabelecida entre pessoas
muito poderosas no governo, que tinham biografias significativas, e
parlamentares. Era a exposição de um projeto de permanência no poder —
analisa a historiadora Maria Aparecida Aquino, professora da
Universidade de São Paulo (USP).
Se de fato o que já se revelou até agora sobre o superfaturamento de
contratos na estatal for apenas a ponta de um grande iceberg, o
escândalo revelado pela Lava-Jato tem tudo para rivalizar com o abalo
que o mensalão provocou no país. Isso porque tem repercussões fortes no
mundo dos negócios e na política. Assim como o julgamento do caso do
mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) quebrou um paradigma ao
condenar à prisão poderosos como ex-parlamentares e ex-ministros, as
denúncias da Operação Lava-Jato podem dar um fim parecido a altos
executivos de algumas das maiores empresas do país.
Por outro lado, o caso tem ainda uma bomba política prestes a
explodir: a lista de parlamentares e políticos denunciados pelo
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa na delação
premiada. Em depoimento no Congresso no último dia 2, ele deixou escapar
que teria denunciado entre 35 e 40 políticos. A lista é mantida sob
sigilo pelo ministro do STF, Teori Zawaski, por causa do foro
privilegiado dos citados. Até agora, sabe-se que há envolvidos do PT, PP
e PMDB, que apadrinharam os executivos da Petrobras investigados.
O caso da Petrobras não é o primeiro nem será o último escândalo. A
corrupção sempre existiu e não é um problema só do Brasil. O que um
escândalo como esse nos ensina é que a sociedade precisa vigiar mais —
diz Maria Aparecida.
Fonte: O Globo
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