Rios Voadores cumpriu 52 mandados judiciais em cinco Estados
A Polícia
Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF), a Receita Federal e o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) realizaram na manhã desta
quinta-feira, 30 de junho, a operação Rios Voadores, contra organização
criminosa que criou metodologia especial para a conversão forçada de florestas
em pastagens.
O sistema
movimentou R$ 1,9 bilhão entre 2012 e 2015 e destruiu 300 km quadrados de
florestas em Altamira, no Pará, área equivalente ao território de municípios
como Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG) ou Recife (PE). O prejuízo ambiental
foi de R$ 420 milhões.
Foram
cumpridos 24 mandados de prisão preventiva, nove mandados de condução
coercitiva e 19 mandados de busca e apreensão em municípios do Pará (Altamira,
Anapu e Novo Progresso), de São Paulo (Araçatuba, Itápolis, Presidente
Prudente, Sandovalina e São Paulo), de Mato Grosso (Alta Floresta, Barra do
Garças, Cuiabá, Guarantã do Norte, Peixoto de Azevedo, Porto Alegre do Norte,
Rondonópolis, Sinop e Sorriso), de Mato Grosso do Sul (Ponta Porã) e de Santa
Catarina (São José).
Segundo as
investigações, o grupo liderado pelo empresário Antônio José Junqueira Vilela
Filho, conhecido como AJ ou Jotinha, invadia florestas, retirava e vendia a
madeira de valor mais alto, e depois derrubava a mata remanescente e ateava
fogo. Na terra devastada era plantado capim e instalada criação de gado. Para
praticar esses crimes a organização criminosa utilizava mão de obra submetida a
condições semelhantes às de escravos
Após a
consolidação das pastagens, o grupo registrava os terrenos em cadastros
ambientais rurais oficiais. Os registros eram feitos em nome de laranjas
(pessoas que servem como intermediárias em negócios fraudulentos). As
pastagens, então, eram exploradas pelos próprios integrantes do grupo ou
arrendadas para terceiros.
Por essas e
outras irregularidades, Jotinha figura hoje como o infrator que recebeu multas
de maior maior valor ja aplicadas pelo Ibama na Amazônia (R$ 120 milhões em dez
autos de infração), e que é responsável pela maior área já embargada pela
autarquia na região (300 km quadrados).
Modo de atuação
- O grupo se organizava em vários núcleos: o dos “gatos” (responsáveis
pelo agenciamento de trabalhadores para submissão a condições semelhantes às de
escravos), o dos gerentes das “fazendas” griladas, o núcleo dos laranjas (que
concediam o uso dos seus nomes para as fraudes de forma espontânea), o dos
especialistas em geoprocessamento, o grupo de compradores de áreas desmatadas,
os gerentes financeiros do negócio, e o núcleo formado pelos familiares de
Jotinha, organizador de todo o sistema criminoso.
Submetidos a
condições semelhantes à da escravidão, trabalhadores eram alocados em
acampamentos espalhados por todo o território invadido, tática conhecida como
desmatamento multiponto ou desmatamento cupim. Com número fixo de dez
componentes, cada acampamento era formado por oito operadores de motosserras,
um encarregado da manutenção dessas máquinas e um cozinheiro. Os trabalhadores
só eram pagos ao final da derrubada de toda a área.
O
desmatamento seguia critérios científicos. As árvores com copas mais altas eram
preservadas para que as demais espécies fossem derrubadas sem que o crime
pudesse ser identificado pelos satélites de detecção de desmatamento. Com o
objetivo de evitar futuras fiscalizações do Ibama, Antônio José Junqueira
Vilela Filho monitorava, via satélite, as queimadas feitas pelo grupo
criminoso.
Índios denunciaram - A denúncia sobre a atuação da
quadrilha foi feita pelos indígenas Kayapó da Terra Indígena Menkragnoti, de
Altamira. Por meio de radiocomunicação amadora os índios verificaram que os
acampamentos organizados pelos desmatadores eram muitos e estavam
estrategicamente distribuídos pelo território. Uma comissão de lideranças
indígenas foi a Brasília e relatou o caso ao Ibama, que em abril de 2014
promoveu operação Kayapó, de combate ao desmatamento no interior e no entorno
da TI.
Guiados
pelos índios, servidores do Ibama encontraram e desmontaram os acampamentos. Os
trabalhadores escravizados foram entrevistados, o que possibilitou a
identificação das lideranças da quadrilha. Em seguida, o Ibama, aliado aos
Kayapó, aumentou a vigilância em terra. Essa maior presença de fiscais na área
pode ter mudado as estratégias de atuação da quadrilha. O Ibama suspeita que a
organização criminosa passou a utilizar aviões agrícolas para sobrevoar as
áreas invadidas e lançar coquetéis molotov e o herbicida conhecido como agente
laranja. O plantio de capim também passou a ser feito por meio de pulverização
aérea, segundo o Ibama.
Após estudar
a dinâmica de atuação do grupo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) lançou satélites com melhor resolução de imagem, que detectam o
desmatamento ocorrido abaixo das copas de árvores mais altas, informa o Ibama.
Rios Voadores - O título da operação é emprestado
do nome dado ao fenômeno natural responsável por transportar um imenso volume
de umidade e de vapor de água da Amazônia até outras regiões do Brasil, como o
centro-oeste, o sudeste e o sul. Segundo ambientalistas, a quantidade de água
da bacia amazônica carregada por essas massas de ar chega a ser superior à
escoada pela foz do Amazonas, o maior rio do mundo.
Quando eles
passam sobre São Paulo, podem conter 27 vezes o volume do rio Tietê, o que
equivale a 115 dias da média de consumo de água da cidade, informou durante a conferência Rio +20 o ambientalista
Gérard Moss, um dos pesquisadores do tema. Saiba mais em
http://riosvoadores.com.br.
Prisão preventiva e condução
coercitiva - A
prisão preventiva é uma modalidade de prisão determinada pela Justiça para
impedir que o acusado (réu) atrapalhe a investigação, a ordem pública ou
econômica e a aplicação da lei. O réu pode ser mantido preso preventivamente
até o seu julgamento ou pelo período necessário para não atrapalhar as
investigações.A condução coercitiva é o meio pelo qual determinada pessoa é
levada à presença de autoridade policial ou judiciária.
Entrevista coletiva - Representantes das instituições
promotoras da operação concederam na manhã desta quinta-feira entrevista
coletiva sobre o tema, na sede da PF, em Belém. Fotos do evento e cópias de
gráficos e imagens apresentadas em: http://bit.ly/coletivariosvoadores . Parte
da coletiva foi filmada pelo MPF e está disponível em:
http://bit.ly/periscoperiosvoadores.
Mandados de prisão preventiva
expedidos contra:
Adilce
Eleotério Garcia, o Panquinha
Adriano
Campos de Almeida
Antônio José
Junqueira Vilela Filho
Arnildo
Rogério Gauer
Bruno Garcia
Almeida
Cláudio
Roberto Bratz
Clesio
Antonio Sousa Carvalho
Douglas
Dalerto Naves
Edson
Mariano da Silva
Eremilton
Lima da Silva
Evaldo
Mulinari
Francisco
Antônio Junqueira Franco
Jerônimo
Braz Garcia
Jhonatham
Brito Medeiros
Laura Rosa
Rodrigues de Sousa
Leilson
Gomes Maciel
Luciano
Bello Lorenzoni
Márcio Kleib
Cominho
Nélio ngelo Santiago
Nilce Maia
Nogueira Gauer
Thiago Bello
Lorenzoni
Ramão
Benites Gimenes
Ricardo
Caldeira Viacava
Rodrigo
Siqueira Pereto
Mandados de condução coercitiva
expedidos contra:
Alisson
Fernando Klimek
Ana Luiza
Junqueira Vilela Viacava
Ana Paula
Junqueira Vilela Carneiro Vianna
Cleber
Rodrigo de Oliveira
Clemar José
Fais
Dione Regina
de Lucca
Eduardo Góes
da Silva
Fábio
Brustolin Giaretta
Heládio
Cezar Menezes Machado
Proibição de
comunicação com arrendatários citados na investigação, proibição de
deslocamento de município e controle por monitoramento eletrônico contra:
Antônio José
Rossi Junqueira Vilela
Mandados de busca e apreensão
expedidos para os endereços das seguintes pessoas físicas e jurídicas:
A. E. Garcia
Comércio e Trasnporte ME - Panquinha Compra de Gado (Altamira/PA)
Adilce
Eleotério Garcia, o Panquinha (Altamira/PA)
Adriano
Campos de Almeida (Novo Progresso/PA)
Antônio José
Junqueira Vilela Filho (São Paulo/SP)
Bruno Garcia
Almeida (Sinop/MT)
Ecritório
Campos Organização Contábil (Presidente Prudente/SP)
Edson
Mariano da Silva (Novo Progresso/PA)
Empresa
Adepará de Castelo dos Sonhos (Altamira/PA)
Fertimig
Fertilizantes Ltda (unidades de Rondonópolis/MT e Sorriso/MT)
Jeronimo
Máquinas Ltda – ME (Sinop/MT)
Jerônimo
Braz Garcia (Sinop/MT)
Jhonatham
Brito Medeiros (Sinop/MT)
Nilce Maia
Nogueira Gauer (Guarantã do Norte/MT)
Ricardo
Caldeira Viacava (São Paulo/SP)
Sociedade
Comercial AJJ S.A (São Paulo/SP)
Sociedade
Comercial do Rochedo (Cuiabá/MT)
Sociedade
Empresária Terra Engenharia-PA (unidades de Altamira/PA e Novo Progresso/PA)
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