Uma carta divulgada ontem, pelo Movimento Munduruku
Ipereng Ayu, aponta uma grande preocupação, por parte da comunidade indígena da
região de Jacareacanga, de que a prefeitura do município está tentando
interferir na organização dos Munduruku, acirrando conflitos internos e com a
população da cidade. Assinada a punho por lideranças, caciques, estudantes e
professores indígenas, a carta denuncia uma reunião, convocada pelo Secretário
de Assuntos Indígenas de Jacareacanga, Ivânio Alencar Nogueira, com o apoio da
associação indígena Pusuru, que dizia ter como objetivo discutir a “organização
social” do povo Munduruku.
Ocorrida nos dias 1 e 2 de junho na aldeia
Karapanatuba, às margens do Tapajós, a reunião teria decidido que a Pusuru,
associação que tem participado de processos de negociação sobre o complexo
hidrelétrico do Tapajós com o governo federal – à revelia de grande parte da
população Munduruku, que optou pela resistência contra as usinas- é a única
representante do povo Munduruku. “O Secretário de Assuntos Indígenas está
pressionando alguns representantes Munduruku da Associação Pusuru para se
posicionarem contra os demais indígenas que não concordam com as posições do
governo”, denuncia o documento divulgado ontem.
A carta também diz que não foi legítima a reunião de
Karapanatuba, acusando a Prefeitura de Jacareacanga de tentar desestabilizar a
resistência dos Munduruku para implementar as hidrelétricas na região, e não
garantir sua principal reivindicação de recontratação de 70 professores
munduruku, demitidos no final de fevereiro. “Entendemos que a reunião na aldeia
Karapanatuba não poderá decidir sobre as atividades que impactem o povo
Munduruku, como por exemplo fazer acordos, aprovar projetos ou autorizar coisas
sem conversar e consultar com o povo Munduruku”. Diz a carta.
Segundo lideranças Munduruku, Ivânio Alencar é o
principal mentor da manifestação anti-indígena ocorrida em Jacareacanga há
menos de um mês, quando comerciantes e garimpeiros locais atacaram com paus e
fogos de artifício cerca de 20 indígenas que reivindicavam a recontratação dos
professores demitidos. Por outro lado, a Prefeitura de Jacareacanga acusa os
Munduruku de colocar fogo em uma casa destinada aos professores durante as
manifestações contra a demissão dos docentes indígenas. Os Munduruku alegam que
foram membros da Prefeitura que atearam fogo no local para incriminá-los.
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