Por Francisco Petros ( * )
A morte de Eduardo Campos é, tragicamente, o mais importante fato político da atual campanha eleitoral.
A morte de Eduardo Campos é, tragicamente, o mais
importante fato político da atual campanha eleitoral. Dentre os
principais candidatos certamente Eduardo Campos era a “novidade” da
eleição presidencial. Não propriamente em função de sua trajetória
política, nascida em meio de uma das mais importantes oligarquias
políticas do Nordeste, a do governador Miguel Arraes – que morreu também
nesta mesma data. Eduardo Campos, jovem político da geração pós-64,
procurava ocupar um espaço político entre o denominado lulismoe o
eixo direito da política brasileira, ilustrado pelo mineiro Aécio
Neves. Sua vinculação com a ex-candidata à presidência Marina Silva,
muito embora se revestisse de ausência de identidade política entre
ambos, poderia assumir a feição de uma espécie de “terceira via” na
atual corrida eleitoral.
Até a ocorrência deste triste episódio, a
probabilidade de Campos ampliar a densidade de votos era baixa. Estava
evidente que as eleições caminhavam para uma polarização entre o
discurso político “burocrático-empresarial” de Aécio Neves e a
“plataforma social” de Dilma Rousseff, embora esta última não encarne o lulismo na sua essência.
A morte de Eduardo Campos assumirá uma feição
importantíssima, a despeito de seu fraco desempenho nas pesquisas
eleitorais até agora. Marina Silva deverá ser a candidata do PSB à
presidência e, com isso, transformará a corrida eleitoral atual num
debate muito mais aceso a respeito do desenvolvimento e da política.
A
candidata Marina Silva contará com a herança de cerca de 20% dos votos
da eleição de 2010, bem como esgarçará os votos à esquerda e à direita
do eleitorado brasileiro. Para Marina Silva, o desenvolvimento é uma
questão ideológica e pode ser calcada em novas bases, dentre as quais,
envolvendo o tema da sustentabilidade social e ambiental. Daí decorre,
em contraposição à sua moderna visão política, a alusão de “sonhática” à
candidata, termo este que carrega uma perspectiva de transformação e,
paradoxalmente, de empecilho ao desenvolvimento econômico e à finança.
Portanto, não se deve subestimar o efeito dramático e imenso que a morte
de Eduardo Campos tem sobre a atual política brasileira.
É difícil projetar a significação, digamos,
“numérica” da troca de Campos por Marina. As pesquisas informarão
rapidamente estes efeitos. Vale alertar que não dá para simplesmente
verificar as pesquisas antigas e projetar o futuro. O evento dramático
da morte de Campos trará elementos novos ao imaginário popular e, com
certeza, afetarão a substância do voto (aspecto qualitativo) e não
apenas o percentual (aspecto quantitativo). Arrisco-me a afirmar que a
polarização eleitoral pode se alterar. Marina tem todos os ingredientes
para assumir a feição oposicionista ao governo. Note-se que os votos de
Marina não serão um legado perfeito de Campos.
Os votos de Marina serão
extraídos, como já dissemos, à direita e à esquerda do candidato
pernambucano, ou seja, será vista como mais oposicionista que Aécio
Neves e mais “social” que Dilma. Trata-se de um novo total de votos. O
eleitor deverá se acomodar em novas bases e à luz de novos fatos. A
política é construída racionalmente e emocionalmente, mas é decidida nos
detalhes. Quem imaginaria que a escolha de Marina Silva em ir para o
PSB poderia desembocar neste destino? Não fosse a “Rede” inviabilizada
pela Justiça Eleitoral, não seria Marina a candidata com enormes chances
de mudar o cenário eleitoral. Tudo pode mudar.
Há também o cenário de uma vitória de Dilma Rousseff
ganhar a eleição em primeiro turno. As pesquisas indicarão a situação
atual, mas isto será decidido muito mais em função do comportamento
político de Marina Silva face aos novos fatos que pelos cálculos
aritméticos dos institutos de pesquisas.
A pergunta adicional e relevante que surgirá, logo à
frente, será em torno programa econômico de Marina Silva. Sabe-se que
este tem um caráter evidente de conservadorismo, em função do perfil dos
economistas que a assessoram (Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara
Resende), bem como elementos que apontam para o futuro, notadamente nas
questões de vanguarda como no caso da ecologia, da matriz enérgica e dos
programas sociais.
O comportamento das elites perante o novo marco desta
eleição será igualmente importante. Eduardo Campos estava inquieto com o
apoio financeiro à sua campanha. Marina Silva, por conta da tragédia
que se desfralda, pode ter mais apoio. A palavra está com o eleitor que
recebe esta notícia como um novo ponto de partida no inquietante jogo
eleitoral do Brasil de hoje.Vamos continuar refletindo sobre estas questões e informaremos os nossos eleitores a respeito de nossas percepções.
*Francisco Petros é economista,
pós-graduado em Finanças. É Bacharel em Direito. Foi Presidente da
APIMEC-SP (Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais).
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