Em audiência
pública realizada na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e
Fiscalização e Controle do Senado, autoridades locais e ambientalistas
discutiram o Projeto de Lei do Senado (PLS) 258/2009 que divide e altera a
categoria da Reserva Biológica Nascentes da Serra do Cachimbo, localizada no
sul do Pará. Pelo projeto, apresentado por um senador paraense, a reserva será
dividida em duas partes, com a criação do Parque Nacional Nascentes da Serra do
Cachimbo e da Área de Proteção Ambiental Vale do XV.
Diferentemente
da reserva biológica, status atual da região paraense, que deve ter preservação
integral, os parques nacionais podem receber visitação e ter destinação
turística. No caso das áreas de proteção ambiental, é permitida a ocupação
humana, com atividades econômicas ecologicamente sustentáveis e com proteção da
diversidade biológica.
Segundo o
presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
Roberto Vizentin, das 12 categorias de unidades de conservação, a reserva
biológica é a mais restritiva e se justifica pela preservação da fauna e flora
em ambientes frágeis, que é o caso da Serra do Cachimbo. “De 2005 para cá,
revertemos aquela situação de desgovernança verificada em um período histórico
em que estourou o processo de desmatamento, com violência e ocupação
desordenada. Criou-se as unidades, com 8 milhões de hectares de área protegidas
no oeste do Para, uma macrorregião de aproximadamente 30 milhões de hectares”.
O ICMBio se
posiciona pela manutenção da reserva biológica, entretanto o presidente do
instituto acha possível uma negociação. “Ao reconhecermos que houve um processo
de cima pra baixo, porque a criação de reserva biológica não exige consulta, e
que afetou as pessoas da região, a situação deve ser tratada com critério e
base técnica, para não se perder uma das áreas mais importantes de
conservação”, disse Vizentin.
A reserva
foi criada em 2005, no âmbito de um plano de desenvolvimento sustentável para a
área sob influência da BR-163, atualmente em implantação, mas para o presidente
da Associação de Produtores do Vale do XV, Fábio Barbosa, a iniciativa serviu
de moeda de troca para a regulamentação ambiental da rodovia. “Tínhamos o sonho
da pavimentação mas ele virou pesadelo. O asfaltamento vai desenvolver o maior
estado produtor de grãos, o Mato Grosso, e quem vai sofrer é a população do
Pará”, disse o produtor.A conclusão da BR-163 até o Porto de Miritituba, distrito de Itaituba, no Pará, vai permitir que o escoamento da produção de grãos da região norte de Mato Grosso seja feito pelas hidrovias da Bacia Amazônica, aliviando o tráfego em direção aos portos do Sul e Sudeste do Brasil.
Para o
presidente da associação, a mudança de categoria na área de conservação do Pará
vai permitir o trabalho dos produtores da região, que estariam limitados por
unidades de conservação, reservas indígenas e uma área militar. “É um projeto
de lei que viabiliza, na prática, o que todo mundo quer, que é preservar o que
é floresta fechada, e nós produtores vamos produzir seguindo os critérios
ambientais. Essa indefinição é que aumenta o desmatamento. É o produtor rural
que está presente no dia a dia e que se dispõe a cuidar e coibir desmatamento”,
garantiu Barbosa.
Presidida
pelo senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), autor do projeto, a audiência contou
também com a participação do pesquisador Paulo Barreto, do Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), e do engenheiro florestal Ederson Zanetti.
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