O fazendeiro e madeireiro Décio José Barroso Nunes, o Delsão, acusado de ser o mandante principal do assassinato do sindicalista José Dutra da Costa, o Dezinho, crime ocorrido em Rondon do Pará no dia 21 de novembro de 2000, vai a júri popular no próximo dia 29, em Belém. O julgamento foi transferido da comarca do Rondon para a comarca de Belém, por decisão do Tribunal de Justiça, em razão do poder econômico e político de Delsão na região, o que poderia influenciar na decisão dos jurados.
O fazendeiro
é acusado de se apropriou de quase 150 mil hectares de terra no município, onde
possui inúmeras serrarias e fornos de fabricação de carvão. Quase totalidade
das terras que ocupa, são terras públicas federais e estaduais, no entanto, nem
o INCRA e nem o ITERPA tem adotado qualquer medida para a arrecadação dessas
terras. Em sua atividade sindical na década de 90, Dezinho apoiou várias
ocupações de famílias sem- terra em fazendas próximas às fazendas de Delsão,
denunciou a prática de trabalho escravo em suas fazendas e a apropriação ilegal
de terras públicas por parte do fazendeiro e madeireiro.
No processo
de investigação da morte de Dezinho, a polícia chegou a uma testemunha que era
irmã de um dos principais pistoleiros de Delsão, de nome Pedro. Relatou a
testemunha que, incomodado pela ação do sindicalista, Delsão teria encomendado
o assassinato de Dezinho a Pedro, no entanto, o pistoleiro, antes da execução,
comentou o fato com seu irmão. Ocorre que o irmão do pistoleiro conhecia
Dezinho e fazia parte de um dos acampamentos de sem- terra, organizado pelo
sindicalista. Dezinho foi então avisado da empreitada criminosa. Poucos dias
após, o pistoleiro Pedro foi assassinado em Rondon. Suspeita-se que, a razão de
sua morte foi porque falou demais e sabia muito. A testemunha relatou ainda
para a polícia que o pistoleiro Pedro praticou vários assassinatos em Rondon a
mando de Delsão.
Poucos dias
após o assassinato do pistoleiro Pedro, o Sindicalista foi assassinado por outro
pistoleiro de nome Welington de Jesus Silva. Welington foi preso em flagrante
por populares logo após o crime. Foi condenado a 27 anos de prisão, mas,
autorizado a passar um feriado de final de ano em casa, nunca mais retornou
para cumprir a pena. Os intermediários do crime Igoismar Mariano e Rogério Dias
tiveram suas prisões decretadas mas nunca houve interesse da polícia em
prendê-los. No ano passado, dois outros acusados de terem participação no crime
foram julgados mas foram absolvidos.
Delsão, foi
preso pela polícia logo após o crime mas foi colocado em liberdade dias depois por
decisão da justiça À época, a decisão foi duramente criticada como uma
demonstração de favorecimento ao fazendeiro. A preocupação dos familiares do
Sindicalista Dezinho e das entidades sindicais e de direitos humanos que
acompanham o caso é que o imenso poderio econômico e a forte influência política
que o fazendeiro e madeireiro possui na região possa influenciar no resultado
do julgamento a seu favor. Três dos
principais promotores da capital que atuam no tribunal do júri se negaram a
fazer a acusação do fazendeiro no julgamento do dia 29 alegando razão de foro
íntimo.
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