Justiça já
determinou que índios desocupem o Sítio Pimental, de propriedade da Usina.
A coordenadora regional da Funai em Altamira,
Estella Libardi de Souza, visitou na quinta-feira, 11, a ensecadeira de
Pimental, acompanhada por um representante da Norte Energia e dois membros da
Policia Federal, para uma primeira conversa com os manifestantes que, desde
segunda, paralisaram as obras de Belo Monte neste trecho. A ocupação é um
protesto contra o barramento do Xingu e o não cumprimento de acordos e
condicionantes. A ida da coordenadora ao acampamento seguiu a recomendação do
Juiz Federal Marcelo Honorato, que havia negado o pedido de despejo da Norte
Energia e do Consórcio Construtor Belo Monte e notificou a Funai “para realizar
o trabalho de intervenção pacífica no conflito possessório, durante as próximas
48 horas, com a presença de um procurador federal e especialistas indígenas,
devendo apresentar relatório circunstanciado a cada 24 horas de trabalho,
descrevendo, compulsoriamente, as soluções tentadas, os insucessos e seus
motivos, bem como se obteve êxito na retirada pacífica dos indígenas”.
De acordo com os manifestantes, o sucesso das
negociações dependerá inteiramente do atendimento das reivindicações
apresentadas durante a reunião, que foram lidas e entregues por indígenas e
pescadores, e assinadas pela representante da Funai. Segundo participantes,
houve tensão no inicio da reunião quando os manifestantes acusaram a Norte
Energia de coerção por ter cortado a água potável e a energia da ensecadeira,
deixando-os em situação de extrema vulnerabilidade. Também a fala de um dos
representantes da Policia Federal, de que não haveria negociação em área
ocupada, mas apenas em Altamira, gerou protestos entre os indígenas, que
reafirmaram que quaisquer conversas deverão ocorrer no acampamento. Tanto
indígenas quanto ribeirinhos, pescadores e agricultores haviam preparado suas
respectivas pautas de reivindicação, apresentadas à coordenadora da Funai na reunião.
Entre as demandas dos indígenas, destacam-se:
demarcação das terras indígenas de acordo com o previsto nas condicionantes do
licenciamento de Belo Monte; monitoramento territorial; infraestrutura e
saneamento básico para as comunidades indígenas; construção de escolas com
ensino diferenciado nas comunidades indígenas; postos de vigilância para as
comunidades; pistas de pouso nas comunidades; farmácias nas comunidades e
estruturação das associações das comunidades indígenas. Já pescadores
ribeirinhos e agricultores apresentaram demandas em conjunto, entre as quais: o
direito de pescar e andar livremente no rio; inclusão das ilhas e da margem do
rio Xingu como área de subsistência e territórios dos povos tradicionais; um fundo
emergencial para as famílias que dependem do rio Xingu no valor de 3 mil
reais/mês, com reajuste, do início das obras até seu termino e remanejamento
das famílias que moram nos bairros atingidos na cidade, respeitando a lei
habitacional.
Segundo
representantes dos manifestantes, a coordenadora da Funai teria afirmado que
entende que a situação é delicada e as demandas legitimas, mas que a ocupação
do canteiro seria uma “medida de força, drástica”. No entanto, não houve
nenhuma intimação formal para que os acampados deixassem a ensecadeira, nem
encaminhamentos concretos sobre a continuidade das negociações. O juiz Marcelo
Honorato, de Altamira, determinou a realização de uma audiência de conciliação
na segunda-feira,15 , no canteiro de obras do Sítio Pimental, em Belo Monte,
para que as comunidades indígenas e demais ocupantes apresentem uma pauta de
reivindicações para a Norte Energia, empresa responsável pela construção da
Usina Hidrelétrica Belo Monte.
A
audiência será presidida pelo Ministério Público Federal com participação da
Fundação Nacional do Índio, Funai. Na sentença, o juiz ordena ainda que a
audiência só se realize se houver a prévia desocupação pacífica da área
invadida, determinando o prazo de 24 horas a partir da notificação para o seu
cumprimento, que se deu na data de ontem. O canteiro do Sítio Pimental, um dos
três da Hidrelétrica Belo Monte, está ocupado desde segunda-feira, 08, por
cerca de 60 índios de cinco tribos diferentes. A decisão judicial foi tomada a
partir de um pedido de reintegração de posse da Norte Energia e do Consórcio
Construtor Belo Monte. Na ação, a Norte Energia e o Consórcio informam que os
invasores obrigaram os trabalhadores da obra a deixar o local, onde estão bens
da ordem de R$ 1,5 milhão, além de explosivos armazenados em um paiol.
Nenhum comentário:
Postar um comentário