No dia 3 de março de 2016 o procurador de justiça do Ministério Público do Pará Nelson Medrado e o promotor de justiça titular de Ulianópolis, Arthur Melo, visitaram novamente a área, em Ulianópolis, sudeste do Estado, que é alvo de um dos mais danosos crimes ambientais já praticados contra a natureza neste Estado com graves repercussões para a flora, fauna, recursos hídricos e à saúde da população daquele município. A visita contou ainda com o Tarcísio Feitosa, do Grupo de Apoio Técnico Interdisciplinar do Ministério Público e representantes do Instituto Evandro Chagas. O grupo foi averiguar a situação em que o local se encontra nesse período chuvoso e percebeu que com o passar do tempo a situação se torna cada vez mais preocupante.
Relatório
realizado em 2001 pela Fundação Instituto Náutico Brasileiro (Inabra) já
alertava o nível de perigo dos resíduos encontrados na área que tem um total de
982 hectares. De lá para cá o problema só se agrava uma vez que, com o tempo,
essas substâncias se misturam formando novos compostos possivelmente ainda mais
danosos à saúde.
Os resíduos
industriais são oriundos de várias empresas, a maioria multinacionais e
nacionais de grande porte. O material tóxico industrial começou a ser
depositado no local quando a Companhia Brasileira de Bauxita (CBB) cessou as
atividades de exploração do minério e criou a Usina de Passivos Ambientais
(Uspam), que passava a se responsabilizar pela incineração dos resíduos
industriais. O fato é que os resíduos encaminhados pelas empresas não receberam
o tratamento adequado sendo despejados diretamente na natureza gerando graves
danos ambientais.
Em 2015 o
Ministério Público criou um grupo de atuação especial para acompanhar o caso e
responsabilizar as empresas pelo despejo dos rejeitos. A partir do trabalho
desse grupo as empresas que enviavam lixo tóxico para Ulianópolis foram
identificadas e, em dezembro de 2015, o MP ajuizou denúncias criminais contra
15 de um total de 17 empresas donas dos rejeitos. São elas: Petróleo Brasileiro
S/A (Petrobras); Petrobras Transporte S/A (Transpetro); Mann+Hummel Brasil
LTDA; Holld Meyer Indústria Química; Yadoya Insdústria e Comércio S/A; Showa do
Brasil Ltda; Ifer da Amazônia Ltda; Grace Brasil Ltda (Grace Brasil); Cosan
Combustível e Lubrificantes S/A; Brastemp da Amazônia S/A; Eletrobrás
Termonuclear S/A (Eletronuclear); Brasilian Color Indústria de Tintas e
Vernizes Ltda; BBC Industrial e Comercial Ltda; Águia Química Ltda; Agro
Química Maringá S/A.
O grupo de
atuação especial do Ministério Público é composto pelo promotor de justiça
titular de Ulianópolis, Arthur Melo, além dos promotores de justiça com atuação
anterior no caso: Louise Rejane de Araújo Silva, Maria Cláudia Vitorino
Gadelha, Márcio Maués de Farias e Brenda Ayan, e ainda do coordenador e
promotor de justiça Auxiliar do Centro Operacional de Meio Ambiente, Nilton
Gurjão e José Godofredo e da promotora de Justiça Sabrina Daibes. O grupo
recebe ainda o apoio dos integrantes dos demais Centros de Apoio Operacionais
(CAOS), do Núcleo de Improbidade, o procurador de justiça Nelson Medrado. O
grupo de atuação especial mantém contato constante com o Instituto Evandro
Chagas e outras instituições técnicas (públicas e privadas), no interesse da
causa, além de acompanhar o monitoramento da condição de saúde de
ex-trabalhadores e moradores da área afetada.
A
preocupação é que o raio de contaminação tome proporções incontroláveis uma vez
que a região contaminada é considerada uma das maiores produtoras e
exportadoras de grãos do Pará, sendo incontestável sua importância econômica
para o Estado. Vale ressaltar que os grãos produzidos não são consumidos
somente nessa região, pois ultrapassam as fronteiras paraenses. Além disso, a
área contaminada fica localizada na região das nascentes do rio Gurupizinho,
afluente do Rio Gurupi, que segue seu curso passando por propriedades rurais
com atividades agropastoris com destaque para o milho que serve a população em
uma comunidade próxima. O lixo tóxico foi despejado no interior de uma região
coberta por floresta tropical, distante 15 km em linha reta do centro urbano de
Ulianópolis.
Danos à
saúde
Até 2012, o
Ministério Público constatou que moradores da cidade estavam utilizando os
barris contaminados da área da CBB para utilizá-los como depósito de
armazenamento de água para consumo próprio. Um termo de ajustamento de conduta
assinado entre o MP e a prefeitura do município substituiu os tambores por
caixas d’água a fim de que a contaminação não se espalhasse ainda mais.
Antes disso,
ex-trabalhadores da usina nem se davam conta de que já estavam contaminados. A
confirmação veio com o laudo médico do Instituto Evandro Chagas realizado em
2012 que atestou a presença de chumbo acima das taxas normais no organismo
desses ex-trabalhadores. Diante do quadro de elevada gravidade e risco, o
Ministério Público firmou termo de compromisso com Estado e prefeitura de
Ulianópolis (01/06/15) visando levantamento geral da saúde da população, assim
como, a organização de medidas assistenciais para pessoas expostas ou
diagnosticadas como intoxicadas devido à contaminação.
A
contaminação é decorrente de substâncias químicas diversas como chumbo,
resíduos de óleo contaminado, caulim contaminado, borra de tintas, amônia,
tanques de combustível, embalagens de biocidas, lâmpadas florescentes,
baterias, partes de placa de circuitos eletroeletrônicos, medicamentos diversos
com prazo de validade vencidos, frascos de produtos químicos, dentre outros,
formando um verdadeiro lixão tóxico contaminante e perigoso.
Linha do
Tempo:
2001:
Em março a
Companhia Brasileira de Bauxita (CBB) contrata a consultoria da Fundação
Instituto Náutico (INABRA) para indicar as adequações necessárias para que se
tornasse uma usina de passivos.
A INABRA
constata o armazenamento inadequado de resíduos líquidos, sólidos e pastosos.
Não há
registro da CBB e seu corpo técnico no CONFEA/CREA
A atividade
oferece risco à segurança dos trabalhadores
Até
17/02/2002 foi estimada a quantia de 3.949 toneladas de resíduos em estoque.
2002:
Laudo
pericial (017/2002) do Instituto de Criminalística Renato Chaves reforça que a
CBB não tem capacidade técnica para funcionar como incineradora de resíduos e
rejeitos industriais.
Laudo
técnico do IBAMA (20/04/2012) relata as condições inadequadas de armazenamento
dos resíduos perigosos comprovando o descumprimento à legislação ambiental e
alertando sobre o risco de contaminação do lençol freático e rios próximos.
O laudo
constatou ainda a existência de mais de 30 mil toneladas de rejeitos
industriais.
2003:
Em junho o
juiz de Ulianópolis lavra decisão liminar acatando pedido do MP na ação que
pede a cessação das atividades da CBB e seu sócio diretor Pedro Antônio Pereira
da Silva.
Depois que
as atividades da empresa foram cessadas os responsáveis legais desapareceram.
O local
ficou abandonado sendo que passou a ser frequentado por moradores que retiravam
os camburões para usar no armazenamento de água para consumo próprio.
2007:
Laudo
pericial expedido pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves coleta
amostras de solo para estudo e consta a presença de diversas substâncias
contaminantes sobre o solo. O levantamento inclui registros fotográficos das
logomarcas contidas nos tambores.
2012:
Em julho, um
inventário é realizado pela CBB pelo MPPA com participação dos Institutos
Renato Chaves e Evandro Chagas, Ibama, Secretarias Estadual e Municipal de Meio
Ambiente, Sipam, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar.
Em novembro,
o Instituto Evandro Chagas apresenta laudo médico que atesta a quantidade de
chumbo no organismo de ex-trabalhadores da CBB/Uspam está acima das taxas
normais, o que indica contaminação.
2014
Em março
nota técnica do Instituto de Perícias Científica Renato Chaves trazem registros
que atestam que gravidade da situação permanece e recomendando a retirada
imediata dos resíduos do local reforçando os perigos à saúde e ao meio
ambiente.
2015:
Em junho o
MPPA firma termo de compromisso com o Estado e prefeitura de Ulianópolis
visando levantamento geral da saúde da população de Ulianópolis e a organização
de medidas assistenciais para pessoas expostas ou diagnosticadas como
intoxicadas.
Em dezembro
o MP ajuíza denúncias criminais contra 15 das 17 empresas donas dos rejeitos.
São elas: Petróleo Brasileiro S/A (Petrobras); Petrobras Transporte S/A
(Transpetro); Mann+Hummel Brasil LTDA; Holld Meyer Indústria Química; Yadoya
Insdústria e Comércio S/A; Showa do Brasil Ltda; Ifer da Amazônia Ltda; Grace
Brasil Ltda (Grace Brasil); Cosan Combustível e Lubrificantes S/A; Brastemp da
Amazônia S/A; Eletrobrás Termonuclear S/A (Eletronuclear); Brasilian Color
Indústria de Tintas e Vernizes Ltda; BBC Industrial e Comercial Ltda; Águia
Química Ltda; Agro Química Maringá S/A.
2016:
Em janeiro
Pedro Antônio Pereira da Silva dono da CBB foi localizado e preso em SP pelo
Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – GAECO/SP. Ele era
procurado desde 2002 e foi preso por crime ambiental e estelionato, mas
conseguiu habeas corpos e foi solto novamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário