“Viadinho! Tinha que ser preto do nordeste!”. Esse foi o tratamento direcionado a um estudante universitário dentro de um hotel de luxo em Belém, de acordo com o boletim de ocorrência registrado na última sexta-feira (30). O caso de injúria e discriminação está sendo investigado pela Seccional de São Brás. O relato foi postado nas redes sociais e amplamente compartilhado, o que iniciou uma campanha de críticas na página do hotel. O G1 entrou em contato com o Crowne Plaza, que informou que se posicionaria via email. Mas até o momento da publicação desta reportagem, o hotel não se manifestou.
O
denunciante é o estudante de psicologia Henrique Noronha, que é paraense, mas
mora no Maranhão há mais de dez anos. Ele participava de um colóquio sobre
Freud no Crowne Plaza, hotel cinco estrelas, quando relata ter sido
surpreendido pelo episódio de agressão após ter almoçado no local durante o
intervalo entre as palestras.
Estopim do
tumulto
Segundo o
estudante, um mal entendido foi o estopim do tumulto. “Cheguei ao local e
perguntei onde eu deveria pagar e pesar a comida. Mas um garçom informou que o
almoço era liberado para participantes do evento. Então eu me servi, comi e
depois subi as escadas para voltar ao colóquio, quando uma atendente veio me
dizendo que teria que pagar uma conta de mais de R$ 70. Informei que haviam me
dito que o almoço era liberado. Eu estava conversando com a garçonete, quando o
segurança do local veio e começou a me intimidar e me acusar de roubo. Ele
disse que chamaria a polícia, eu me sentei dizendo que esperaria e sugeri que
verificassem as filmagens para verem que eu realmente parei e perguntei sobre o
pagamento”, conta.
Injúria e discriminação
De acordo
com o universitário, o segurança teria checado as filmagens, e mudou de
postura. No entanto, o episódio de violência não acabaria ali. “Perto de nós,
havia um grupo de pessoas, entre eles o dono do hotel, que se levantou e veio
até minha direção cercado de seguranças e violentamente puxou o celular da
minha mão, gritou de forma histérica, me empurrou e soltou frases do tipo
‘tinha que ser preto do Nordeste’, ‘seu viadinho! fica fazendo palhaçada no meu
hotel’, ‘sai daqui, seu viado, e tu nunca mais entra aqui’”, conta Henrique.
O estudante
diz ainda que lhe tiraram o celular e o expulsaram do local. “Ao sair,
incomunicável, em uma cidade que de certa forma me é estranha porque moro fora
há muito tempo, estava clara a perversidade da situação. Trataram-me assim
porque não tinham a menor ideia de que eu teria amparo e apoio da minha família
que mora aqui, imaginaram que sem o celular e por ser de outra cidade, eu não
teria condições para levar adiante a situação e tomar providências”, relata.
Henrique
conseguiu contatar a família que mora em Belém e registrou o caso na polícia.
Ele conta que voltou ao Crowne Plaza com os policiais, que ouviram do hotel a
acusação de “roubo de comida” contra Henrique. O celular foi entregue por um
advogado do hotel à delegacia do Jurunas um dia após o caso, e devolvido ao
estudante. Henrique recebeu apoio de internautas e a postagem sobre o episódio
foi amplamente compartilhada. Henrique recebeu apoio de internautas e a
postagem sobre o episódio foi amplamente compartilhada.
“Redes
sociais possibilitaram a denúncia”
O estudante
relatou o episódio nas redes sociais e a postagem tem mais de 3 mil
compartilhamentos. “Muitas pessoas passam por humilhações e discriminação, mas
acham que não vale a pena denunciar, ou se sentem desamparadas. Hoje as redes
sociais servem de espaço, de voz. E eu acredito na militância, no ativismo de
minorias, e quis sim denunciar, por mais que eu tenha passado mais de cinco
horas esperando na delegacia. É preciso se empoderar e demonstrar que uma vez
cientes dos preconceitos e violências que nos cercam, não ficaremos calados”,
diz.
Henrique
acionou advogados e pretende processar o hotel. O universitário diz que a
agressão acarretou diversos prejuízos, e que foi impedido de participar do
restante do colóquio, que se estendeu por mais um dia. “Eles me impediram de
assistir a pelo menos 50% do congresso, e ainda tem toda a questão do racismo,
xenofobia, constrangimento, invasão de privacidade porque eles invadiram meu
celular e trocaram as senhas, além da homofobia”.
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