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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

ESTUDANTE DENUNCIA AGRESSÃO E HOMOFOBIA EM HOTEL DE LUXO EM BELÉM



“Viadinho! Tinha que ser preto do nordeste!”. Esse foi o tratamento direcionado a um estudante universitário dentro de um hotel de luxo em Belém, de acordo com o boletim de ocorrência registrado na última sexta-feira (30). O caso de injúria e discriminação está sendo investigado pela Seccional de São Brás. O relato foi postado nas redes sociais e amplamente compartilhado, o que iniciou uma campanha de críticas na página do hotel. O G1 entrou em contato com o Crowne Plaza, que informou que se posicionaria via email. Mas até o momento da publicação desta reportagem, o hotel não se manifestou.

O denunciante é o estudante de psicologia Henrique Noronha, que é paraense, mas mora no Maranhão há mais de dez anos. Ele participava de um colóquio sobre Freud no Crowne Plaza, hotel cinco estrelas, quando relata ter sido surpreendido pelo episódio de agressão após ter almoçado no local durante o intervalo entre as palestras.

Estopim do tumulto

Segundo o estudante, um mal entendido foi o estopim do tumulto. “Cheguei ao local e perguntei onde eu deveria pagar e pesar a comida. Mas um garçom informou que o almoço era liberado para participantes do evento. Então eu me servi, comi e depois subi as escadas para voltar ao colóquio, quando uma atendente veio me dizendo que teria que pagar uma conta de mais de R$ 70. Informei que haviam me dito que o almoço era liberado. Eu estava conversando com a garçonete, quando o segurança do local veio e começou a me intimidar e me acusar de roubo. Ele disse que chamaria a polícia, eu me sentei dizendo que esperaria e sugeri que verificassem as filmagens para verem que eu realmente parei e perguntei sobre o pagamento”, conta.

Injúria e discriminação

De acordo com o universitário, o segurança teria checado as filmagens, e mudou de postura. No entanto, o episódio de violência não acabaria ali. “Perto de nós, havia um grupo de pessoas, entre eles o dono do hotel, que se levantou e veio até minha direção cercado de seguranças e violentamente puxou o celular da minha mão, gritou de forma histérica, me empurrou e soltou frases do tipo ‘tinha que ser preto do Nordeste’, ‘seu viadinho! fica fazendo palhaçada no meu hotel’, ‘sai daqui, seu viado, e tu nunca mais entra aqui’”, conta Henrique.

O estudante diz ainda que lhe tiraram o celular e o expulsaram do local. “Ao sair, incomunicável, em uma cidade que de certa forma me é estranha porque moro fora há muito tempo, estava clara a perversidade da situação. Trataram-me assim porque não tinham a menor ideia de que eu teria amparo e apoio da minha família que mora aqui, imaginaram que sem o celular e por ser de outra cidade, eu não teria condições para levar adiante a situação e tomar providências”, relata.

Henrique conseguiu contatar a família que mora em Belém e registrou o caso na polícia. Ele conta que voltou ao Crowne Plaza com os policiais, que ouviram do hotel a acusação de “roubo de comida” contra Henrique. O celular foi entregue por um advogado do hotel à delegacia do Jurunas um dia após o caso, e devolvido ao estudante. Henrique recebeu apoio de internautas e a postagem sobre o episódio foi amplamente compartilhada. Henrique recebeu apoio de internautas e a postagem sobre o episódio foi amplamente compartilhada.

“Redes sociais possibilitaram a denúncia”

O estudante relatou o episódio nas redes sociais e a postagem tem mais de 3 mil compartilhamentos. “Muitas pessoas passam por humilhações e discriminação, mas acham que não vale a pena denunciar, ou se sentem desamparadas. Hoje as redes sociais servem de espaço, de voz. E eu acredito na militância, no ativismo de minorias, e quis sim denunciar, por mais que eu tenha passado mais de cinco horas esperando na delegacia. É preciso se empoderar e demonstrar que uma vez cientes dos preconceitos e violências que nos cercam, não ficaremos calados”, diz.

Henrique acionou advogados e pretende processar o hotel. O universitário diz que a agressão acarretou diversos prejuízos, e que foi impedido de participar do restante do colóquio, que se estendeu por mais um dia. “Eles me impediram de assistir a pelo menos 50% do congresso, e ainda tem toda a questão do racismo, xenofobia, constrangimento, invasão de privacidade porque eles invadiram meu celular e trocaram as senhas, além da homofobia”.

 

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